Página de divulgação das atividades da Associação Zen de Campinas - AZC. Agenda de prática, retiros e visitas de professores do Dharma, monges e mestres Zen. Para demais informações sobre nós, visite nosso site, clicando aqui .
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
Mente de Principiante?
Esta semana, na seção Zen do site Sobre Budismo, uma reflexão a partir de uma palestra do Prof. Joaquim Monteiro, com comentários de Isshin-sensei, sobre um tema muito interessante. Confira! Gasshô http://sobrebudismo.com.br/mente-de-principiante/
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Retorno das atividades aos domingos
Olá a todos. Informamos o retorno das atividades da AZC aos domingos, próximo dia 9 de fevereiro, às 10 h. Aos iniciantes, reiteramos o conselho de leitura do artigo "Saiba mais sobre a AZC". Até breve, amigos! Boa prática! Gasshô
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
Obituário - Toni Packer
Ao ser indagado uma vez sobre como ele
enxergava o futuro do zen nos EUA, o mestre Shunryu Suzuki respondeu:
“Colorido”. Entre as facetas mais interessantes da geração que não
necessariamente teve um mestre zen japonês ou coreano, encontra-se Toni Packer
(1927-2013). Descrever seus ensinamentos, no entanto, não é fácil, porque ela
abre mão de métodos, conceitos, ideias e padrões fixos, de um caminho
espiritual definido, ou de ‘escadas de progresso’ nesse caminho; prefere à
relação professor–estudante o diálogo, no qual se descobre juntos, a partir do
zero (“from the scratch”), o que uma
certa pergunta permite revelar.
Nascida na Alemanha, de mãe judia, vivenciou
os bombardeios devastadores na cidade de Leipzig durante a segunda guerra
mundial, a partir de 1943. Neste período, a sua família também viveu sob
constante medo de ser levada para os campos de concentração. Essa experiência,
na qual não havia nenhuma segurança, nada em que confiar, provocou a pergunta “Qual é o significado desta vida
completamente sem sentido, dominada pelo medo?”, fundamental para sua
futura procura espiritual. Nos anos 50, seguiu seu marido Kyle Packer para os
EUA, onde adotaram um bebê. Kyle tornou-se professor e, mais tarde, diretor de
escola, e Toni estudou psicologia.
Em 1967 entrou em contato com o centro zen de
Philip Kapleau (autor do livro “Os três pilares do Zen”) em Rochester (estado
de NY). Kapleau havia recebido dois anos antes, do mestre zen Hakuun Yasutani,
a permissão para ensinar. No final dos anos 70, Toni foi escolhida por Kapleau
como sua sucessora para conduzir o templo de Rochester. Em parte influenciada pelos ensinamentos de
Jiddu Krishnamurti, no entanto, Toni foi ficando cada vez mais em dúvida sobre
a validade das tradições e rituais do zen e do budismo em geral. Embora o
próprio Kapleau tivesse rompido alguns anos antes com o seu mestre Yasutani,
que não aceitava qualquer adaptação dos ensinamentos e rituais de sua tradição
zen às condições do ocidente, as bruscas mudanças que Toni agora tinha em mente
foram para ele e boa parte dos membros do templo longe demais.
Em consequência, a sangha de Rochester
dividiu-se, e um pouco mais da metade dos
estudantes seguiu Toni. Pouco tempo depois, ela fundou o “Genesee Valley Zen Center”, distante cerca de uma hora ao
sul de Rochester, mais tarde renomeado como “Springwater Center”. Desde então,
foram realizados regularmente retiros de meditação nesse centro, sempre
em silêncio, a não ser nas horas de palestras e conversas programadas, estas
últimas em grupos, ou apenas com Toni. Mais tarde, ela também ministrou regularmente retiros em outras partes dos
EUA e na Europa.
A divisão dolorida de um centro
zen muito importante, a desistência explícita ou o questionamento profundo de
suas instituições, tradições e vários dos seus ensinamentos, geraram muita
discussão nas comunidades budistas dos EUA. Toni foi alvo de muitas críticas,
inclusive de estar ‘batendo’ (“knocking”)
no budismo. Essa reação é um tanto surpreendente, pois o próprio Buda foi explicitamente crítico às tradições (Anguttara Nikaya
4.193 – Bhaddiya Sutta). Nesse sentido, Toni respondeu a
essas críticas
como segue: “Seu
ensinamento [o de Buda] foi compreender ’o eu’ profundamente, de
forma clara, total – para ver a verdade sobre ’o eu’, seu sofrimento
inevitável, e ir além. Buda advertiu seus ouvintes a não aceitar a palavra
falada, nem a tradição, nem o que está escrito em uma escritura, nem a aparente
capacidade de alguém mais, nem a consideração ‘este é o nosso professor’. ‘Sejam uma luz
para si mesmos’, foram as palavras do Buda ao morrer, ‘não procurem salvação em
nenhum refúgio externo. Refugiem-se na
verdade. Não procurem refúgio em ninguém além de si mesmos’. Como se pode
‘bater’ nisso?” .
Por experiência própria, Toni
continuou convencida das “verdades” do budismo sobre anattā (inexistência de um “ego” separado) e iluminação. E da importância da
meditação, livre e sem esforço, sem alvo, sem expectativa, e do valor de
retiros em silêncio, mas retiros nos quais quase nenhuma atividade seja
obrigatória para os participantes. Toni enfatizou insistentemente a importância
de uma presença completa, momento após momento. Na meditação, além da prática
da atenção pura e aberta, sem alvos e sem julgamentos, ela sugeriu o que chamou
de “investigação meditativa”. Isso é basicamente o seguinte: ela sugere para a pessoa que está meditando que às vezes se
pergunte, por exemplo, “de onde vem esse sentimento agora?”, ou “o que está acontecendo nesse momento, por dentro e por
fora?”, ou talvez considerar grandes questões como “quem sou eu?”, ou
“qual é o sentido da vida e morte?”, etc., mas sempre
deixando as perguntas abertas num “sem-saber”, sem
forçar, até sem esperar uma resposta. Ficando assim aberto, apenas observando,
mas completamente presente, pode-se vivenciar “uma crescente transparência dos pensamentos e imagens e seu poder de
manter esse corpo enraizado num drama emocional, de tragédia e comédia”. Talvez a atenção exploradora sobre
o que está acontecendo a cada momento também permita enxergar diretamente que “esse pensador,
esse agente, é o próprio pensamento”. Mas Toni
estava convencida de que, em respeito à iluminação,
não existe o efeito de uma causa, citando as palavras do Buda sobre a
existência de “um não-nascido, não-originado, não condicionado, não-criado”,
sem a qual não seria possível ver como escapar do nascido, originado, condicionado,
criado (Udāna 8.3).
Enquanto alguns
a criticaram por ter abandonado tradições e instituições sagradas, outros
defenderam Toni, reconhecendo sua importância para o desenvolvimento do zen no
ocidente, por exemplo,
Charlotte Joko Beck: “Toni nos sacode para fora dos ramos da nossa árvore
para que possamos ver a raiz.”
Ou Jack Kornfield: "Toni Packer é um
tesouro. Com uma investigação profunda e exigente de um mestre zen, ela
convida-nos de volta ao mistério e à maravilha, a redescobrir a inocência e a
totalidade que são a nossa própria verdadeira natureza.”
Dos livros de Toni Packer,
geralmente compostos por ensaios, palestras,
conversas e cartas trocadas com estudantes, apenas um foi traduzido para o português: “O
milagre do agora” (editora Nova Era, 2011). Vale a pena a sua leitura e se
perguntar, honestamente, o que essas investigações
podem significar para o nosso próprio caminho espiritual. Mas sem esperar uma resposta...
(Volker Bittrich)
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